“Quero um jornalismo menos bonzinho”, avisa Franz Vacek, da RedeTV! - Juci Ribeiro

“Quero um jornalismo menos bonzinho”, avisa Franz Vacek, da RedeTV!

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Que tal comemorar o aniversário no meio do campo de batalha entre as forças de guerra da Ucrânia e da Rússia?
O que seria indesejável para a maioria das pessoas foi visto como um presente para o jornalista Franz Vacek.
Esta foi apenas uma das muitas experiências em seus 6 anos como correspondente internacional da RedeTV!.
Desde agosto é o novo superintendente de Jornalismo e Esporte da emissora. Ele tem a missão de reformular a maneira como a notícia é trabalhada e transmitida no canal.
Nesta entrevista, Vacek comenta os primeiros resultados das mudanças implementadas, o uso da tecnologia no telejornalismo, a pressão psicológica do novo cargo, suas fontes diárias de informação e o esquema montado na RedeTV! para a cobertura das eleições.
Qual a sua avaliação dessas primeiras semanas no comando do jornalismo da emissora?
Franz Vacek: Eu estou muito motivado. Pretendo mudar o formato e o conteúdo da maioria dos jornalísticos e esportivos da Rede TV!. Estou trabalhando dia e noite. Quero deixar a minha marca no jornalismo brasileiro. Identifiquei que podemos ser sérios sem sermos chatos. Quero me aproximar do telespectador. Sermos mais coloquiais. Sou apaixonado pelo que faço e acredito que podemos fazer a diferença com um microfone nas mãos. Não pretendo seguir o padrão de nenhuma emissora. Quero criar um DNA próprio. O desafio é mudar mentalidades. É um choque de gestão. 
Após as primeiras mudanças, o RedeTV! News apresenta um crescimento de audiência. Quais novidades ainda pretende implementar no telejornal?
Franz Vacek: Passamos no News do estático para o movimento. Os apresentadores interagem com a redação. A bancada também é usada, mas não apenas. Criamos quadros novos e um núcleo de reportagens investigativas que em pouco tempo já produziu vts exclusivos. Essas mudanças foram acompanhadas de um crescimento exponencial da audiência. A audiência média quase quadruplicou e os picos aumentaram dez vezes. Isso em um mês e meio. É apenas o início, mas hoje estamos brigando pelo quarto lugar no horário. É uma pequena revolução. A redação está empolgada. O News dos sábados é um laboratório. As boas ideias migram para semana. Nossa postura também está mudando. Quero um jornalismo mais forte, menos bonzinho. A sociedade e a democracia lucram com um jornalismo forte e próximo da população. Somos uma emissora nacional. Quero valorizar mais a presença das praças. A área internacional está sendo ampliada com a chegada de novos correspondentes. Teremos uma das maiores coberturas internacionais da televisão brasileira. Tem muita novidade boa.
Especialistas afirmam que o futuro da TV aberta, diante do crescimento dos canais pagos e da perda de audiência para a internet, é a cobertura de eventos ao vivo. Concorda? Tem projetos nessa direção?
Franz Vacek: Acho que sempre terá espaço para produtos de qualidade. Claro que eventos ao vivo são importantes. Nesse sentido, usamos a tecnologia como um diferencial da Rede TV!. Estamos aposentando o satélite em links no jornalismo. Usamos câmeras 4G Wi-Fi. Ou seja, não precisamos mais daqueles cabos todos para transmissão ao vivo. Isso permite muito mais agilidade na cobertura dos factuais.
A Globo acaba de fazer uma troca de apresentadoras, e outras emissoras também pretendem realizar mudanças de âncoras. Planeja contratar novos apresentadores ou alterar posições no quadro atual da RedeTV!?
Franz Vacek: Sim. Serão contratações e mudanças pontuais. É natural que ocorram modificações com a minha chegada. Estou levantando possibilidades que se enquadrem no novo projeto para o jornalismo e esporte. Quero sair do lugar comum. Não tenho medo de ousar com os pés no chão. Inovar na linguagem. Quero oferecer sempre o melhor para o nosso telespectador. Estamos nos reinventando. Mudando a cara do nosso jornalismo.
Você deixou a adrenalina da reportagem para assumir um cargo com muita pressão psicológica e algum grau de burocracia. Como tem sido essa nova realidade?
Franz Vacek: Continuo com alma de repórter. Isso ajudou a oxigenar a redação. Passei por muitas guerras e catástrofes. Isso sim era pressão. Estou me adaptando bem e conquistando o respeito e o meu espaço também atrás das câmeras. Amassei muito barro. Estive em coberturas em mais de quarenta países. Sozinho com uma câmera na mão consegui inúmeros furos de reportagem mundo afora. Estive presente em praticamente todas as coberturas jornalísticas e esportivas nos últimos anos. Essa bagagem me legitima a cobrar com mais propriedade. Sou um filho da televisão. Acredito que o papel, a pauta aceita tudo, mas a rua é soberana. Nela estão os personagens e as histórias. Essa oportunidade incrível que a presidência da Rede TV! me deu foi muito bem aceita no mercado. Afinal, passa a mensagem que é possível chegar longe para quem se dedica. Sempre encarei o jornalismo como um sacerdócio. Vejo a minha nova função como uma continuidade no crescimento profissional. Até nas funções mais burocráticas ter experiência em reportagens e entender até da parte técnica só ajuda.
Após 6 anos vivendo em Paris, já se readaptou a São Paulo? Do que mais sente falta do cotidiano parisiense?
Franz Vacek: Troquei o rio Sena pelo Tietê, mas nem tive tempo de sentir saudade. A minha mudança ainda está vindo de navio. Claro que Paris é única, mas já estava na hora de enxergar o caminho da volta. Sou movido a desafios. Como no fim do filme Casablanca digo que aconteça o que for sempre teremos Paris. Sempre fui um vencedor, um trabalhador. Não entrei nessa para perder. Trouxe uma miniatura da Torre Eiffel e do Napoleão para colocar na minha mesa. Outro dia me perguntaram se eu queria ser o Napoleão do jornalismo (risos). Gostaria de conquistar coisas grandes para o nosso país, mas não tenho a menor vocação para ser ditador (risos).
Cite três coberturas marcantes neste período como correspondente internacional.
Franz Vacek: Me orgulho de ter sido o primeiro repórter da televisão brasileira a entrar na Líbia dominada pelo ex-ditador Kadafi durante a guerra civil. Quando voltei a Trípoli passei por três tiroteios. Tudo pela notícia. Outra cobertura marcante foi percorrer o Haiti de norte a sul poucas horas depois do terremoto. Em fevereiro fui o primeiro correspondente do Brasil a chegar em Kiev, palco de guerra do conflito que derrubou o ex-presidente ucraniano Viktor Yanucovich. Era o meu aniversário. Não poderia sonhar um presente melhor. Poderia citar tantas outras como Chernobyl, Fukushima, Praça Tahir no Egito, em plena primavera árabe… Cada uma daria um livro. A cada cobertura dessas cresci um pouco mais como ser humano e jornalista.
Como é o seu hábito diário de informação?
Franz Vacek: Leio três jornais brasileiros diariamente e revistas. Acesso pela internet sites estrangeiros. Continuo a ler diariamente a mídia francesa. Gosto do Le Monde. Inclusive adorei quando fui selecionado por eles como o correspondente brasileiro para comentar a política internacional do ex-presidente francês Sarkozy. Entro em diversos portais, um deles é o Terra. Sou viciado em informação. Faço questão de manter contato com as fontes e sempre estar antenado.
Com a experiência e a visão de quem cobriu vários eventos políticos no exterior, como avalia o papel da imprensa brasileira nesta eleição presidencial? A mídia do país cumpre a missão de informar corretamente o cidadão-eleitor?
Franz Vacek: Sem generalizar, a imprensa brasileira é parecida com a americana. Preocupa-se em vender manchetes com a pecuinha. Sinto falta aqui do que ocorre na imprensa europeia. O aprofundamento das grandes questões nacionais. O Brasil é maior do que muitas das polêmicas levantadas. Existe uma necessidade do ‘lead’ a todo custo. Em nossos debates e sabatinas estamos aprofundando o conteúdo. O retorno tem sido muito bom.
Como será o esquema da RedeTV! para a cobertura das eleições, em 5 de outubro?
Franz Vacek: Será uma força tarefa de todo departamento. Teremos links ao longo da programação. A partir das 16h45 boa parte da grade será nossa até de madrugada. Queremos marcar pontos. Jornalismo vive de credibilidade.



  Foto divulgação redetv

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