UM REINO EM PLENO SERTÃO QUADERNA, O ENCANTADO - Juci Ribeiro

UM REINO EM PLENO SERTÃO QUADERNA, O ENCANTADO

Compartilhe
por @jucirribeiro

Uma história sobre conquistas, batalhas e lutas pela coroa de um Reino Encantado no Sertão do Brasil



O belíssimo espetáculo “Quaderna, o Encantado”, volta a cartaz todas as terças-feiras de abril, às 20h, no Teatro SESI Rio Vermelho, com ingressos a R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia). Produção do Coletivo Canduras e Artes e dirigido por Edinilson Motta Pará, o espetáculo coloca em cena o ator Ricardo Stewart interpretando Felipe Quaderna, que se apresenta como descendente do João Ferreira, líder responsável pelo massacre e, portanto, herdeiro da Coroa do Reino Encantado do Sertão. A dramaturgia foi criada a partir da coleta de informações sobre o fato, presentes em obras da literatura brasileira, como A Pedra do Reino, de Ariano Suassuna, Pedra Bonita, de José Lins do Rego, notícias de jornais da época e relatos de historiadores. Em cena Igor Reis (Camerata Popular do Recôncavo ) faz a trilha sonora ao vivo. 

A História Real - Quaderna, o Encantado” é uma montagem teatral de cunho sertanejo, medieval e armorial, com base nos fatos que marcaram o movimento sebastianista. A trama do espetáculo está ligada aos acontecimentos históricos ocorridos no Sertão de Pernambuco que resultaram no massacre de mais de 50fiéis ligados a um líder messiânico. Durante três anos, de 1835 a 1838, uma comunidade com cerca de mil pessoas se estabeleceu na localidade chamada de Pedra Bonita, em São José do Belmonte, em Pernambuco, próxima a duas pedras de cerca de 30 metros que diziam que eram mágicas.
O povo era comandado por um beato chamado José Ferreira quedizia que o mitológico rei português Dom Sebastião (morto no século 16 em batalha contra os mouros) ressuscitaria ali naquelas pedras encantadas trazendo riqueza e prosperidade para os mais pobres e necessitados. No local seria criado o Reino Encantado do Sertão, revivendo, assim, a lenda lusitana do rei que retornaria para restaurar a soberania do Império Português, livrar o povo das mazelas, distribuir riqueza e terras, enriquecer os pobres e libertar os negros da escravidão.
Para que acontecesse o retorno de Dom Sebastião, segundo o beato, as duas pedras teriam que ser banhadas de sangue o que resultou no sacrifício de dezenas de fieis. Esse acontecimento ficou conhecido como o “Massacre da Pedra Bonita” e é um dos principais fatos históricos brasileiro de levante popular de cunho sebastianista ao lado da do “Massacre da Serra do Rodeado”, em 1820 e da Guerra de Canudos, em 1897.

A Montagem - A peça foi escrita em forma de monólogo, na qual o protagonista, Felipe Quaderna, se apresenta como descendente do João Ferreira, líder responsável pelo massacre e, portanto, herdeiro da Coroa do Reino Encantado do Sertão.O personagem, (inspirado em Pedro Dinis Ferreira Quaderna, protagonista de A Pedra do Reino de Ariano Suassuna),  mostra a formação da árvore genealógica de sua família, que segundo ele, era composta de reis e príncipes, que sempre buscaram a melhoria de vida dos mais pobres através da ressurreição de Dom Sebastião. Na verdade, eram beatos que acreditavam que o surgimento do monarca lusitano nas terras sertanejas traria riquezas para região castigada pela seca. O relato é costurado por elementos sonoros e visuais do universo sertanejo: lamentos, cantos, louvores, prosas, poesias, cantos armoriais, sons de chocalhos, apitos, etc. A trilha sonora e musical é executada ao vivo por um músico/personagem que divide o palco com o ator.

O Mito de Dom Sebastião - Dom Sebastião foi o rei português morto em 1578 quando, aos 24 anos, se joga numa Cruzada, rumo ao Marrocos, na tentativa de converter mouros em cristãos. Ele desaparece na batalha de Alcácer Quibir e seu corpo nunca foi encontrado. Como consequência, a Coroa Portuguesa, anos depois, passa para as mãos espanholas. Cresce em terras lusas o sonho de que Dom Sebastião um dia retornaria para restaurar o Império Português. Então, o mito se estabelece, espalhando-se pelas as colônias lusitanas, inclusive, no Brasil.

O Personagem - construção do personagem tem sua elaboração baseada na tradição dos antigos Griôs, contadores de histórias transeuntes que trazem à tona a memória e as lembranças relatadas pelos antigos ancestrais e repassadas para os novos de uma forma própria e pessoal, utilização vários artefatos, sonoros e visuais, para melhor apresentar o relato.
        
Elementos Cenográficos – Figurinos, cenografia e adereços se confundem na proposta criada para a montagem. O espaço cênico é constituído por um painel ao fundo formando um mosaico com temas armoriais e tecido pendurados por cordas que se movimentam a partir de manipulação de roldanas.        O figurino é composto por várias peças de roupas, que se sobrepõe uma sobre a outra e que durante a encenação são retiradas ou colocadas e transformadas em objetos de cena. Além de peças de tecidos, caixas, instrumentos musicais e bonecos de vários tamanhos se tornam elementos de cena através da manipulação do ator e do músico.

Trilha Sonora – O espetáculo é costurado por intervenções musicais e sonoras executadas ao vivo pelo multi-instrumentista Igor Reis (Camerata Popular do Recôncavo e Forró Bando Velho Chico). Serão utilizados instrumentos que se relacionem diretamente com a cultura popular, como rabeca, pandeiros, tambores, apitos, flautas e elementos percussivos.

Coletivo Canduras e Artes – Quaderna, O Encantado é mais uma produção do Coletivo Candura e Artes, criado em 2013 pelo diretor de teatro Edinilson Motta Pará e pela arte-educadora Cilene Canda com o objetivo de construir um fazer artístico através de montagens teatrais, cursos e workshops. Várias pessoas foram se agregando, o tornado um coletivo de artistas unidos para conceber de forma colaborativa e produzir um local destinado a pequenos diálogos e intercâmbios artísticos.
O grupo tem como sede uma sala na Rua Carlos Gomes voltada para ensaios, debates, reuniões, cursos e oficinas no campo das artes, da educação e da cultura. A intenção do coletivo é produzir momentos de trocas e diálogos no campo artístico e cultural. O coletivo já produziu o esquete de contação de estórias infantis Essa Toalha Tem Estória, junto com a musicista Sálua Chequer, em 2013; o espetáculo teatral A Atriz Que Não Sabia Morrer, em 2014, com Marcos Machado e Irema Santos, em 2015, o recital de poesia Nós por Acaso: Um Caso de Poesia, com os atores Marcos Machado, Alda Valéria, Cilene Canda e o músico Ives Sahar, e o Sarau dos 13 Poetas Malditos, com vários convidados. Além dos citados, fazem parte do grupo o músico Igor Reis, o cordelista Sérgio Baialista e o ator Ricardo Stewart. 

Moda e Estilo

publicidade