Sempre com seu “olhar interessado no comportamento da torcida”, o diretor-autor Edvard Passos aponta os momentos da história do clube que foram eleitos para a cena de “A Voz do Campeão”: início da década de 30, o ato solene de fundação em 10 de janeiro de 1931, após árduo processo de extinção, no ano anterior, e junção dos dois times Associação Atlética da Bahia e Bahiano de Tennis. Com jogadores desempregados, os times antes rivais se juntam na adversidade, para formar o Esporte Clube Bahia, que ainda era chamado de Baianinho, quando a equipe mista ainda jogava com a camisa de um time e calção do outro. O diretor comenta:
- Eram jogadores excelentes, chamados à época de ‘palha da seda’. Não é à toa que o time já nasceu ganhando todas as partidas. O grande adversário era o Ipiranga e o slogan do novo clube, “Nascido para vencer!”.
Outro momento destacado na peça é a conquista do primeiro campeonato brasileiro, em 1959. A Taça Brasil foi para o Esporte Clube Bahia, que venceu o Santos, mesmo com o craque Pelé na equipe. Retratando outro período, o espetáculo se concentra na rivalidade Bahia-Vitória, acirrada sobremodo entre 1973 e 1979, quando o tricolor foi seguidamente campeão baiano. A dramaturgia de “A Voz do Campeão” dá destaque ainda à segunda conquista do título no campeonato nacional, em 1988, quando o escudo-símbolo do time ganha a segunda estrelinha. E, por fim, a peça focaliza o momento contemporâneo, em que a torcida comemora a ascensão do time à Séria A e com ele está em verdadeiro idílio, ainda mais agora que acaba de receber o prêmio de Torcida de Ouro da CBF.
O texto construído em parceria por João Alfredo Reis e Edvard Passos faz justa homenagem ao principal patrimônio do clube de futebol baiano: a sua torcida, estimada hoje em seis milhões de pessoas. A elaboração dramatúrgica demandou intensa dedicação, incluindo pesquisa de campo desde 2002, quando surgiu a ideia aos autores em meio à realização de uma partida na Fonte Nova. Daí em diante, muitos jogos compartilhados e muitas fontes consultadas, entre livros e outros registros bibliográficos, videográficos e fonográficos.
Além de livros-referência da octogenária história do time tricolor, os criadores do espetáculo “A Voz do Campeão” tiveram a felicidade de contar com imagens do colecionador Álvaro Brandão, que reúne em seu banco de vídeos, registros de jogos antológicos, depoimentos de torcedores e comentaristas, a partir de 1914. Do Bahia em particular, as imagens mais antigas datam de 1961, que mostram a disputa com o Santos, decidindo o Campeonato Brasileiro. O acervo conta ainda com fotos fixas da época da fundação do clube.
Outra fonte importante, sobretudo para a feitura da trilha sonora assinada por Marcos Carvalho, foi o disco editado pelo radialista esportivo Oldemar Seixas, que traz músicas compostas e ou interpretadas por artistas-torcedores do time tricolor. Nele há clássicos como “Campeão dos Campeões”, do compositor Zé Pretinho, e interpretações de Caetano Veloso e Novos Baianos. Os sucessos musicais de épocas marcantes do time e que ajudam a contextualizar o período fazem parte do material da trilha, que inclui ritmos diversos, a exemplo de marchinhas, boleros, samba, música-disco dos anos 70, frevo e hits do carnaval baiano. Locuções futebolísticas tanto historicamente reais, como as ficcionais da trama dramatúrgica estão na teia de audições do espetáculo.
“Nascido para vencer!”
Ficha Técnica
Texto: João Alfredo Reis e Edvard Passos
Direção: Edvard Passos
Assistência de direção: Daniel Farias
Elenco: Agnaldo Lopes, Alan Miranda, Felipe Veloso e Leandro Villa
Coreografia: Eri Souza
Iluminação: Irma Vidal
Cenografia: Rodrigo Frota
Figurino: Miguel Carvalho
Adereços: Maurício Pedrosa
Uniformes de época: Paulo Borges
Projeto gráfico: Rinha Comunicação
Contra-regragem: Valfredo Oliveira
Direção de Produção: Simone Carrera
Produção Executiva: Eri Souza
Realização: Sole Produções e Xangô Produções