Escrita pelo dramaturgo francês Koltès, a peça “Zucco” traz uma reflexão sobre o nosso tempo e uma sociedade que carece de afeto
Em 1988, o dramaturgo frânces Bernard-Marie Koltès escreveu uma peça que nos leva a perguntar: É possível ser livre, mesmo que, para isso, seja preciso libertar-se de algo ou de alguém? Ao narrar essa vontade, ele escreve: “Eu sou como um hipopótamo afundado na lama, que se movimenta muito devagar e que nada poderia desviar o meu caminho nem o ritmo que ele decidiu tomar”.
As aspas anteriores são da personagem Roberto Zucco, nome homônimo da peça – Zucco, espetáculo que será encenado pelos formandos de Interpretação Teatral da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (Etufba), de 03 a 18 de março, de quarta-feira a domingo, no Teatro Martim Gonçalves, localizado no bairro do Canela. A montagem tem direção de Gil Vicente Tavares e a temporada será inteiramente gratuita.
Para tornar essa obra uma realidade, os futuros atores estão a realizar um financiamento coletivo na plataforma Benfeitoria -https://benfeitoria.com/zucco. O valor arrecadado será utilizado para confecção de figurino, cenário, iluminação, maquiagem, divulgação e ajuda de custo para profissionais convidados.
Apresentada em quadros interligados, a peça desperta uma reflexão sobre o nosso tempo e traça um panorama de uma sociedade que carece de afeto nas relações humanas. Inspirada na trajetória psicopata do assassino italiano Roberto Succo, o espetáculo coloca uma lupa de aumento para esmiuçar a violência e a crueldade que existe nas interações cotidianas.
Dramaturgia
O personagem principal, Roberto Zucco, é uma figura intrigante. Um assassino em série, que comete diversos crimes num curto espaço de tempo, mas que ao mesmo tempo é capaz de gestos doces e delicados. Na mesma tranquilidade com que ajuda uma pessoa, ele tira a vida de outra. A falta de amor fica evidente mesmo dentro do núcleo familiar. No seu lugar só se vê violência, crueldade e intolerância.
Koltès construiu uma peça movida por ações, em que os crimes cometidos por Zucco não seguem uma lógica consciente, ou seja, não existe psicologismos ou explicações concretas para seus atos. O personagem simplesmente age.
Não existe dor ou arrependimento em Zucco. Para ele, o ato de matar nada tem de amoral. “Eu não tenho inimigos e eu não ataco. Eu acabo com os outros animais não por maldade, mas porque eu não os vi e porque eu pisei em cima deles”, defende-se Zucco.
Koltès cutuca, provoca, sacode várias esferas sociais. Em meio à poeira que sobe, podemos perceber quanta contradição também existe por trás das máscaras das pessoas comuns.
Direção
Zucco conta com a direção de Gil Vicente Tavares, professor da Universidade e diretor de grande reconhecimento no cenário teatral baiano. Em 2017, Gil montou duas peças, Os pássaros de Copacabana eUm Vânia, que juntas receberam 9 indicações ao Prêmio Braskem.
Entre os espetáculos recentes podemos destacar também Sargento Getúlio (2011), que recebeu os Prêmios Braskem de melhor espetáculo adulto e melhor ator, além de ter rodado o Brasil com o Palco Giratório; Quarteto (2014); Caymmi: do rádio para o mundo (2014); SADE (2015), texto de Gil, que recebeu o Prêmio Braskem de melhor texto.
Serviço
O quê: Financiamento Coletivo – espetáculo de formatura ZUCCO
Quando: até 25 de fevereiro de 2018
Site para contribuição:https://benfeitoria.com/zucco
Temporada: de 03 a 18 de março, de quarta-feira a domingo