Salvador será cenário da história de Shakespeare do diretor francês Philippe Talard
Um dos maiores clássicos da literatura mundial, a tragédia Romeo e Julieta, escrita entre 1591 e 1595, por Willian Shakespeare, se mantém tão atual, que o diretor e coreógrafo francês Philippe Talard criou uma versão teatral contemporânea que terá como cenário a capital baiana. A história do dramaturgo inglês sobre o amor impossível entre dois jovens e os conflitos familiares, será encenada por um elenco que reúne 12 capoeiristas baianos do grupo Abadá Capoeira e a bailarina brasileira radicada na Áustria, Márcia Jaqueline, com trilha sonora assinada pelo percussionista Wilson Café. No palco do Teatro da Casa do Comércio, a versão baiana da tragédia Romeo e Julieta será apresentada, nos dias 26 e 27 de outubro, às 20 horas, na Casa do Comércio. A produção é da Carambola Produções.
No papel de Julieta, Márcia Jaqueline, primeira bailarina do Teatro Municipal do Rio e do Ballet Landestheater de Salzburg, na Áustria, será a única personagem interpretada por uma mulher. Além de Romeo, vivido por Dielden Alves Costa, ela vai contracenar com um elenco masculino de capoeirista. A montagem tem como referência a peça encenada em 1708, que contou pela primeira vez com uma mulher no palco, interpretando Julieta. Antes, a história de Shakespeare, que teve sua primeira encenação em 1594, todos os personagens femininos foram vividos apenas por atores homens, como era o costume no teatro elisabetano.
Os 12 personagens masculinos serão interpretados por atores amadores, a maioria nunca pisou em um teatro São os capoeiristas Dielden Alves Costa, Alexsandro Couto da Silva, Aloísio Santos da Silva, Alexsandro Soares, Rodrigo Rodrigues, João Gabriel da Silva, Richardy Pereira, José Alves Conceição, Joilton de Oliveira, Marcelo Neves, Welsei Nascimento e Ivisson Rodrigues. Todos são integrantes da Abadá Capoeira, na Federação, conhecida pelo trabalho que o instrutor Jenipapo desenvolve com jovens em situação de risco social e estado pessoal.
O diretor Phillipe Talard quer surpreender o público, mesmo quem já conhece a tragédia de Shakespeare, com mudanças em cena e no final do espetáculo. Ele considera que a luta de Romeo e Julieta pela liberdade de amar, é igual aos atuais enfrentamentos contra os preconceitos sexuais, étnicos, religiosos e sociais. Neste sentido, o diretor conta que teve a total liberdade de trazer, para os dias de hoje, o cenário de conflitos entre as famílias Montéquio e Capuleto. “No século XVI, a Julieta vivia em um universo machista não muito diferente de agora, com imposições do pai, marido, da religião e a sociedade. Por isso, é proposital ter apenas homens em volta da Julieta, que a oprime completamente”, revela Philippe Talard
Antes de Salvador, Philippe tentou montar o espetáculo no Rio de Janeiro. Sem muita receptividade, aceitou a sugestão de amigos em trazer a produção para Salvador. Entrou em contato com o Instrutor Jenipapo, que veio da Europa para acompanhar a seleção na Abadá Capoeira. O projeto se tornou mais uma ação social desenvolvida no grupo da Federação, possibilitando os jovens a sair de suas comunidades para mostrar seus talentos, através da arte marcial e da dança da capoeira, aliados aos textos da literatura shakespeariana. Todos participaram da concepção do espetáculo, orientando sobre os movimentos da capoeira que poderiam ser inseridos nos passos de ballet, principalmente os solos e pas de deux.
PRESÍDIOS E CAMPO DE REFUGIADOS
No ano passado, Philippe montou a peça Majnoon Laila, uma história árabe milenar, no campo de refugiados AIDA, na Palestina. Há 18 anos, ele vem produzindo espetáculos em presídios de Luxemburgo, França, Alemanha, Itália e República Tcheca, após deixar a direção do Teatro Ulm e do Teatro Nacional de Mannheim, ambos na Alemanha.
“Após 35 anos de atividade em teatros tradicionais, como coreógrafo, bailarino e diretor, tomei a minha liberdade para mergulhar mais profundamente dentro de mim. Encontrar uma forma de curar a ferida causada por ter sido adotado e não ter conhecido meus pais biológicos. Foi dentro do universo prisional que encontrei o remédio, o balsamo para uma cura espiritual e mental. Descobri meu alter ego através dessas pessoas, que, além de prisioneiras, também foram abandonadas, por isso, se tornaram os interpretes da minha visão da humanidade”, revela Philippe.
O Brasil entrou na vida do diretor francês, em 1976, quedo veio deixou o posto de primeiro bailarino da Companhia Nacional de Portugal, para dançar com Ana Botafogo, no Teatro Municipal do Rio. Philippe Talard se formou em dança, música e teatro no Centre International Rosella Hightower, em Cannes. Na dança, teve a oportunidade de trabalhar com importantes nomes do ballet mundial, entre eles, Rudolf Nureyev, Carla Fracci e Mikhail Baryshnikov. Em 1974, Philippe foi chamado por Maurice Bejart para integrar ao o ballet do XX Séculos, em Bruxelas.
TRILHA SONORA
O percussionista Wilson Café, diretor musical do espetáculo, aposta na fusão da percussão com as músicas clássicas na criação da trilha sonora. Com os ritmos afro-brasileiro, ele vai interferir nas músicas compostas pelo violoncelista luxemburguês André Mergenthaler, que se inspirou nos temas extraídos das diversas versões musicais de Romeo e Julieta, criados por Prokofiev, Berlioz, Gounod e Tchaikovsky. Wilson Café também inclui músicas autorais na trilha sonora, apresentando uma percussão contemporânea inspirada em elementos rítmicos latinos e afro-brasileiro.
SERVIÇO
Romeo e Julieta
Data: 26 e 27 de outubro
Hora: 20h
Ingresso: R$ 50 Reais / R$ 25 Reais
Vendas: bilheteria do teatro ou pelo site ingressorapido.com.br
Teatro: Casa do Comercio - Av. Tancredo Neves, 1109 - Caminho das Árvores, Salvador - BA, 41820-021
Informações: (71) 3273.9852
Censura livre