Prevenção da doença inclui realização de exame preventivo, vacinação contra HPV e uso de camisinha
Os preparativos para o “Março Lilás”, mês de prevenção do câncer do colo de útero, já começaram. A necessidade de ampliar a conscientização das mulheres sobre este tema é real, por algumas razões. Primeiro, porque a pandemia de Covid-19 trouxe um agravamento no diagnóstico dos cânceres ginecológicos devido à redução do número de consultas e exames de rotina desde março de 2020, já que muitas pessoas deixaram de ir aos consultórios no último ano por medo de infecção pela “doença no momento”. Este fato acabou inibindo o diagnóstico precoce de tumores que, quando tratados em estágio inicial, apresentam chances muito maiores de cura. Em segundo lugar, é preciso considerar que para cada ano do triênio 2020/2022, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que sejam diagnosticados 16.710 novos casos de câncer de colo do útero no Brasil, com um risco estimado de 15,43 casos a cada 100 mil pessoas, o que representa 7,5% dos tumores que atingem mulheres no país. Na Bahia, a estimativa é de 1.090 novos casos da doença, sendo 90 só em Salvador.
O câncer de colo de útero ocupa a terceira posição entre os tumores femininos mais frequentes, sendo uma das causas mais comuns de morte por câncer no sexo feminino. Para efeito de comparação com outros tumores ginecológicos, vale conhecer as estimativas do Inca: câncer de mama no Brasil: 66.280 novos casos por ano (29,7% dos tumores em mulheres); 16.710 casos de câncer de corpo do útero/endométrio (7,5%) e 6.650 casos de câncer de ovário (3%). De acordo com a ginecologista e obstetra Fernanda Medeiros, a estimativa de novos casos desses mesmos tumores na Bahia é preocupante. “Segundo o INCA, teremos uma média de 3.460 novos casos de câncer de mama na Bahia, sendo 1.180 só em Salvador. Na sequência, teremos 1.090 casos de câncer de colo de útero, foco da campanha ‘Março Lilás’, sendo 90 em Salvador. A incidência de câncer de ovário será menor, mas não menos preocupante: 380 novos casos no estado, sendo 70 em Salvador. Por fim, temos o tumor de endométrio, com estimativa de 350 novos casos na Bahia, 90 só na capital”, relatou a especialista.
Prevenção - Embora a taxa de mortalidade por câncer de colo do útero tenha sofrido redução significativa desde que o rastreamento da doença através do exame de papanicolau se disseminou, ela não mudou muito nos últimos 10 anos. A doença, que afeta a parte inferior do útero, é mais comumente diagnosticada em mulheres com idade entre 35 e 44 anos e raramente se desenvolve em mulheres abaixo dos 20 anos. Mais de 20% dos casos de câncer de colo do útero são diagnosticados em mulheres com mais de 65 anos. No entanto, “esses tumores raramente ocorrem em mulheres que realizam exames regulares de rastreamento para câncer de colo do útero. Por isso, a prevenção é tão importante”, destacou Fernanda Medeiros.
Segundo a especialista, um dos principais fatores que levam ao desenvolvimento do câncer de colo de útero é o vírus HPV (Papiloma Vírus Humano), que infecta a pele e mucosas e é transmitido por meio de relações sexuais. Existem mais de 200 tipos de HPV, mas somente 14 podem causar câncer. A infecção genital por esse vírus é muito frequente e não causa doença na maioria das vezes. Contudo, em alguns casos, ocorrem alterações celulares que podem evoluir para o câncer. Essas alterações são descobertas facilmente no exame preventivo e são curáveis na maioria dos casos. “Por isso, é importante a realização periódica do papanicolau”, frisou.
O risco da doença é aumentado pelo tabagismo, uso prolongado de pílulas anticoncepcionais, início precoce da atividade sexual e presença de múltiplos parceiros sem o uso de preservativos. “A profilaxia do câncer de colo de útero é feita, principalmente, por prevenção do HPV, através da vacinação de meninas dos 9 aos 14 anos e meninos dos 11 aos 14 anos. As medidas também incluem a prática de sexo seguro por meio do uso de preservativos, realização do exame preventivo anualmente a partir dos 25 anos e consultas regulares, pelo menos uma vez por ano, com ginecologista”, resumiu Fernanda Medeiros, que é especialista em ginecologia minimamente invasiva e pós-graduanda em Ciências da Longevidade Humana.
Sintomas, diagnóstico e tratamento - O câncer do colo do útero é uma doença de desenvolvimento lento, que pode não apresentar sintomas em fase inicial. Nos casos mais avançados, pode evoluir para sangramento vaginal intermitente (que vai e volta) ou após a relação sexual, secreção vaginal anormal e dor abdominal associada a queixas urinárias ou intestinais. Os pré-cânceres de colo do útero são diagnosticados com muito mais frequência do que o câncer de colo do útero invasivo. Na fase pré-clínica (sem sintomas), a detecção de lesões precursoras pode ser feita através do exame preventivo papanicolau.
Quando diagnosticado na fase inicial, as chances de cura são de 100%. A detecção pode ser feita por meio da investigação com exames clínicos, laboratoriais ou radiológicos, de pessoas com sinais e sintomas sugestivos da doença (diagnóstico precoce), ou com o uso de exames periódicos em pessoas sem sinais ou sintomas (rastreamento). Entre os tratamentos para o câncer do colo do útero estão a cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia. O tipo de terapêutica adotada depende do estágio de evolução da doença, tamanho do tumor e fatores pessoais, como idade da paciente e desejo de ter filhos. Se confirmada a presença de lesão precursora, ela deve ser tratada a nível ambulatorial, por meio de uma eletrocirurgia.