“Ao escolher um médico, é mais importante para o paciente saber se ele é ativo nas redes hospitalares do que nas redes sociais”, defende especialista
Recentemente, o urologista baiano Frederico Mascarenhas recebeu a ligação de um amigo que queria saber se ele conhecia um determinado cirurgião, já que precisava fazer uma cirurgia e queria uma indicação. O médico respondeu que sim e fez questão de destacar a formação e habilidade do profissional sobre o qual conversavam. Ainda não totalmente convencido, o paciente questionou: “Tem certeza? Ele não tem muitos seguidores no Instagram”. Para encerrar a conversa, o doutor disse: “pode confiar. Ele não é muito ativo nas redes sociais, mas no hospital é”. A partir dessa conversa, é fácil perceber a força das redes sociais na decisão de consumo por parte dos consumidores. Contudo, quando a necessidade da pessoa é a escolha de um médico ou outro profissional de saúde, o número de seguidores nem sempre reflete a experiência do profissional, a quantidade de plantões trabalhados, as horas de sono perdidas para ler o último artigo publicado e os dias de treinamento em simuladores para chegar à perfeição antes de operar um paciente.
O profissional que dedica muitas horas aos estudos, treinamentos e trabalhos dificilmente consegue encontrar tempo para relatar seu cotidiano com frequência ou para estar tão presente nas “timelines”. “Na hora de escolher um médico, é mais importante para o paciente saber se ele é ativo nas redes hospitalares do que nas redes sociais, pois essas nem sempre necessariamente refletem a sua qualidade”, declarou Frederico Mascarenhas. O médico não vê problemas em utilizar as redes sociais, sobretudo porque democratizam o acesso à informação, mas defende que é preciso fazer isso de forma ética.
“Não podemos nos esquecer do nosso compromisso com o sigilo e a privacidade do paciente. Nós que fizemos o juramento de Hipócrates não podemos desconsiderar o código de ética da nossa profissão. A seriedade e o respeito ao paciente são preceitos básicos a serem respeitados. O médico de verdade não produz ou reproduz conteúdo sensacionalista ou inverídico com o objetivo de se promover. Ele não se vale da profissão para fazer propaganda ou comercial de qualquer empresa, nem divulga tratamentos que não tenham comprovação científica”, completou o especialista, que coordena os serviços de cirurgia robótica e transplante renal do Hospital Aliança, é chefe do serviço de urologia e coordenador da residência de urologia do Hospital São Rafael e membro do Robótica Bahia - Assistência Multidisciplinar em Cirurgia.
Muitos outros médicos concordam que é possível estar presente nas redes sociais sem perder a essência de ser médico. Compartilhar conhecimento científico e se aproximar do paciente com respeito são formas inteligentes de ocupar esses espaços. Profissionais e pacientes que tenham interesse de saber o que é permitido ou proibido nas redes sociais de médicos devem saber que, na medicina, a publicidade tem como principal objetivo a orientação educativa e informacional, distanciando-se de ações com finalidade de venda de um produto ou meramente comerciais. O órgão responsável por regulamentar e fiscalizar o exercício desta publicidade é o Conselho Federal de Medicina (CFM), que elaborou as Resoluções n.º 1.974/2011, 2.126/2015 e 2.133/2015 sobre o tema. Todas elas deixam claro que o principal foco deve ser o esclarecimento sobre doenças e outras questões de saúde, com base em conteúdo cientificamente comprovado.
Permissões e proibições - Entre as ações permitidas aos médicos que utilizam o instagram e outras redes sociais estão divulgar o número de registro do CRM e especialidade (se registrada), compartilhar a participação em eventos acadêmicos e científicos da área, informar a sociedade sobre novos tratamentos disponíveis no mercado, publicar fotos com a equipe de trabalho ou com seus professores/preceptores, promover esclarecimentos sobre doenças e outras questões de saúde, e incentivar bons hábitos de vida e rotina cotidiana.
Entre as proibições, destaca-se a divulgação de “antes e depois”, ou seja, o médico não pode compartilhar fotos comparando resultados de procedimentos médicos, ainda que com o consentimento do paciente. O CFM também proíbe fotos com pacientes em salas cirúrgicas; consultas por chat ou comentários (apenas comentários gerais sobre doenças são permitidos), promoção de equipamentos, divulgação de preço ou desconto, elogios e agradecimentos reiterados de terceiros. O descumprimento às regras de publicidade médica pode levar o profissional a responder um processo ético por falta disciplinar e, inclusive, resultar na condenação do médico por violação ao código de ética médica.