Audiência pública sobre Lagoa Busca Vida prevê seu desaparecimento total em até cinco anos, caso medidas não sejam implementadas
Além de interromper o estágio de morte pelo qual passa a lagoa, objetivo da ação é alertar a sociedade sobre o perigo que ronda esse tipo de ecossistema no litoral norte da Bahia
Além de revelar que as causas do crescimento excessivo de algas e plantas aquáticas, muitas delas invasoras, na Lagoa Busca Vida, em Camaçari (BA), têm origem natural e não de intervenção humana, a primeira audiência pública sobre o seu manejo fez uma revelação de grande impacto. “Se nada for feito ainda em 2022, em cinco anos a lâmina de água desaparecerá, a lagoa deixará de existir e se transformará num imenso campo de futebol”. A informação é unânime e vem dos integrantes do Grupo de Estudos da Lagoa Busca Vida, formada pelo biólogo Carlos Castro ‘Bhava’, o engenheiro José Aníbal, o engenheiro ambiental Eduardo Cesana, a jornalista Petra Schaeber, a bióloga Suzana Sendacz e o engenheiro de sistemas José Neves, também representantes da Comissão Ambiental do Condomínio Busca Vida (CBV). Participaram como consultores os pesquisadores Doriedson Ferreira Gomes, Angélica Yohana Cardozo e Loreane Dias Alves, da Universidade Federal da Bahia.
Processo de eutrofização revela o o estágio de morte da Lagoa Busca VidaPara se ter uma ideia da dimensão do estrago, a Lagoa de Busca Vida possui volume de 70 mil metros cúbicos e o Dique do Tororó, em Salvador, um pouco mais - 110 mil metros cúbicos. A previsão atual é de existam praticamente 142.800 toneladas de lodo, areia e vegetação distribuídas pelos 140 mil metros quadrados da lagoa.
Durante a audiência, foram apresentadas à comunidade e autoridades a primeira etapa dos estudos técnicos que vêm sendo feitos desde 2019 sobre a eutrofização da lagoa e as formas de recuperar as centenas de espécies animais e vegetais e fazer voltar ao estado original um dos maiores ecossistemas do litoral norte baiano. Durante o evento, biólogos e engenheiros ambientais falaram sobre o processo em curso, o qual consiste numa grande quantidade de efluentes com matéria orgânica enriquecida com minerais e nutrientes que induzem o crescimento de espécies invasoras num determinado corpo d’água.
Foram também apresentados o levantamento aerotopográfico realizado inclusive com drones, mostrando relevo, superfície e volume do corpo d’água, no que seria uma espécie de planta da lagoa (morfometria); os estudos científicos das extensões de água doce internas, como lagos e rios adjacentes, incluindo aspectos biológicos e cadeias alimentares do zooplancton e do fitoplancton, assim como os fatores químicos, físicos e meteorológicos (limnologia); e o plano-piloto de manejo.
O projeto de recuperação prevê uma intervenção numa área menor, como forma experimental de avaliação das estratégias, utilizando retroescavadeiras e equipamentos anfíbios, retirada das espécies visíveis na superfície, remoção dos resíduos para o solo sem causar poluição, formação de ilhas flutuantes com alguns dos materiais retirados, recomposição da vegetação, e a proteção das nascentes na Fonte dos Padres. Há ainda a possibilidade da criação de um passeio público ecológico rodeando a lagoa e de um espaço para esportes náuticos.
Com recursos próprios, originados do fundo de contribuição ambiental dos moradores do CBV, os resultados preliminares foram obtidos através de 16 reuniões remotas, quatro presenciais, uma visita de campo, quatro tomadas de preço de morfometria, uma campanha de conscientização sobre limnologia e a produção de dois relatórios de avaliação. “O estudo revelou o estado puro da Lagoa, caracterizando a sua eutrofização por um processo natural, não causado por efluentes de carga de nutrientes, e que a efetividade do Plano Diretor na ocupação do solo resultou em pouco ou nenhum impacto na Lagoa Busca Vida”, explica o biólogo Carlos Castro ‘Bhava’.
“Agora, o objetivo é encaminhar todos esses estudos aos principais órgãos da Administração Pública, Secretaria de Meio Ambiente e Ministério Público Estadual, para obtenção das licenças necessárias à realização das ações para recuperação”, acrescentou Marcelo Dourado, administrador e síndico do CBV.